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Cartilhas reúnem recomendações em saúde mental na pandemia
Pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz) produziram três cartilhas sobre o tema.
Se você está irritado, sentindo medo, angústia ou tristeza, e com comportamentos como apetite em excesso, insônia e conflitos na família e no trabalho, você não está sozinho: essas reações são “normais” em uma situação “anormal” como a pandemia de coronavírus. Estima-se que, numa situação como essa, se não houver intervenções, entre um terço e metade da população possa vir a sofrer algum problema psicológico e social. Pensando nessa parcela significativa da população e na importância dos cuidados em saúde mental e psicossocial neste momento, pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz) produziram três cartilhas sobre o assunto, que podem ser acessadas aqui:
Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações gerais
Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores
Elaboradas sob a coordenação de Débora Noal e Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, as cartilhas têm como mote “Você pode muito; com informação, pode ainda mais”. O primeiro documento, com recomendações gerais, alerta que, embora problemas psicológicos sejam comuns na situação atual, nem todos constituem, de fato, doenças. Portanto, as pessoas devem ficar atentas: quando os sintomas ficam persistentes, o sofrimento é intenso e começa a causar dificuldades profundas no cotidiano, é hora de buscar um serviço e atenção especializada. Entretanto, muitas vezes, é possível prevenir o risco de complicações mais sérias a partir de estratégias de cuidado psíquico, que começam por “reconhecer e acolher seus receios e medos” e passam também por “manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual”. Evitar o uso de cigarro, álcool e outras drogas para lidar com as emoções também é muito importante.
Já no documento com recomendações para gestores, destacam-se as variadas estratégias de intervenção em saúde mental e atenção psicossocial, que podem e devem ser implementadas antes, durante e após a epidemia. As primeiras recomendações incluem ações educativas, identificação dos grupos mais vulneráveis e capacitação das equipes profissionais. Durante a epidemia, pode ocorrer sobrecarga de serviço para trabalhadores, mães e cuidadores, crises emocionais e de pânico, aumento dos casos de violência doméstica e do risco de suicídio, e mesmo a estigmatização das pessoas doentes, entre outros. Isso requer ações como a rápida avaliação das necessidades psicossociais da população, a manutenção dos serviços públicos essenciais para atender a essas demandas e a construção de redes solidárias, além de cuidados em saúde mental, especialmente, para as equipes que estão na linha de frente de resposta à epidemia. “Os familiares dos profissionais de saúde também estão mais propensos a apresentarem sofrimento psíquico durante a pandemia”, diz a cartilha.
Há que se considerar ainda que, mesmo depois da epidemia, os problemas podem persistir, incluindo dificuldades para retomar as rotinas e atividades de trabalho, e para reenquadrar os projetos de vida. Nesse sentido, deve-se monitorar e avaliar as experiências e lições aprendidas, bem como consolidar ações interinstitucionais e com participação comunitária para a tomada de decisões, entre outras. “Faça um acompanhamento relativo ao bem-estar de sua equipe de forma regular, deixando-a à vontade para falar com você sobre seu estado mental e sua capacidade de trabalho. Não responsabilize individualmente o trabalhador que não estiver conseguindo lidar com a situação; isto é comum neste contexto”, afirma o documento.
Outro aspecto fundamental, abordado na terceira cartilha, é que crianças compreendem a pandemia e comunicam seus sofrimentos de uma maneira diferenciada, em relação aos adultos. Dessa forma, são necessárias estratégias de cuidado específicas para elas, sobretudo se estiverem hospitalizadas, período durante o qual devem, idealmente, estar acompanhadas de um adulto de referência, com as devidas medidas de bem-estar e segurança. “O isolamento não pode se configurar como experiência de abandono; por isso, a ênfase na dimensão lúdica dos contatos, oportunizando, sempre que possível, alguma forma de brincar. Por exemplo, os Equipamentos de Proteção Individual e os espaços podem ser customizados, permitindo identificação e familiaridade com pessoas e ambientes”, recomenda a cartilha. Outras orientações incluem não mentir para as crianças sobre o diagnóstico e o tratamento; evitar que elas percam a noção da passagem do tempo; e facilitar que expressem seus pensamentos, sentimentos e percepções. “A qualidade da comunicação com a criança é o principal cuidado em saúde mental durante a internação”.