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Veja como o surto de sarampo se espalha quando as crianças são vacinadas – e quando não são

- Claudia Bittencourt



O sarampo está de volta aos EUA – e está se espalhando. Mais de 100 casos em 14 estados e em Washington, DC foram confirmados por funcionários da saúde dos EUA desde que o surto começou no último dezembro na Disneylândia. Sendo que a maioria dessas infecções acometeram pessoas não vacinadas, a culpa pela contaminação – de Washington para o resto do mundo – recaiu sobre os pais que decidiram não vacinar seus filhos.

Parte do problema, de acordo com Dra. Elizabeth Edwards, professora de pediatria e diretora do Programa de Pesquisa em Vacina Vanderbilt resume-se a que: a vacinação é percebida por muitos como uma escolha individual, enquanto que a ciência demonstra claramente que a escolha – de vacinar ou não – pode afetar toda uma comunidade.

“Quando você imuniza seu filho, você não está só imunizando ele. A imunização dessa criança está contribuindo para o controle da doença na população,” explicou Edwards.

Esse efeito protetor é conhecido como imunidade de grupo: uma população amplamente imunizada faz com que o vírus não se espalhe facilmente, fornecendo proteção à comunidade – ou ao grupo – como um todo.

Apesar da alta taxa geral de vacinação contra o sarampo nos EUA, os céticos das vacinas – e seus filhos não imunizados – geralmente reunidos em comunidades com as mesmas opiniões, criam bolsões de sub-imunizados.

A Califórnia, onde a maior parte dos atuais casos de sarampo ainda pode ser encontrada, é um ótimo exemplo. É um dos 20 estados que permite que os pais evitem a vacinação baseados nas suas crenças pessoas, filosóficas – mesmo que os legisladores tenham introduzido uma multa na quarta-feira que baniria tais oportunidades de escolha.

Nas populações onde uma proporção suficientemente ampla das crianças não é imunizada, todos têm um maior risco de ser contaminados pela doença.  

Mas a Califórnia permanece a casa das comunidades com as mais altas taxas de possibilidade de opção sobre vacinação do país. O condado de Santa Cruz, por exemplo, tem uma taxa de exceção por crença de 9.35%, quase três vezes a média do estado. Algumas escolas distritais da Califórnia têm taxas de exceção acima de 10%. Isso é o suficiente para colocar em xeque a imunidade de grupo e impulsionar surtos locais de sarampo.

Os especialistas recomendam que entre 92-95% dos americanos sejam vacinados contra o sarampo para proteger todos na comunidade, especialmente aqueles que não podem receber a vacina: bebês abaixo de um ano de idade, pessoas nascidas antes da introdução da vacina em 1963 e nunca contraíram o sarampo e crianças e adultos  imunocomprometidos, como Rhett Krawitt, um jovem que recentemente começou tratamento de quimioterapia.

Esse é um limiar alto para a imunidade de grupo, mas necessário dada a extrema capacidade de propagação do sarampo. Como explicou James Colgrove, professor de ciências sociomédicas da Escola Mailman de Saúde Pública da Universidade de Columbia, “quanto mais rápido a doença se espalha, maior é o nível de imunidade de grupo necessário.”

O quão infeccioso é o sarampo? O vírus é facilmente aerotransportado; pode permanecer nas superfícies por até duas horas; e a infecciosidade começa quarto dias antes das erupções cutâneas, dessa forma você pode se sentir saudável, mas assim mesmo disseminar a doença. O sarampo é tão contagioso que “se uma pessoa o tem, 90% das pessoas próximas a ela que não são imunes” - nós a chamaremos de suscetíveis – “também serão afetadas”, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Center for Disease Control and Prevention – CDC).

Por sorte, a vacina contra sarampo – administrada na forma de SRC para sarampo, caxumba e rubéola – é muito eficaz. Se tomada na sua forma completa (duas doses), ela protegerá 99% das pessoas contra a doença. Mas, como todas as vacinas, ela não é perfeita: 1% dos casos provavelmente resultará em falha da vacina, o que quer dizer que os receptores não desenvolverão uma resposta imunológica para dada doença, deixando-os vulneráveis. Mesmo havendo uma vacinação perfeita, uma em cada 100 pessoas ficaria suscetível ao sarampo, mas isso é muito melhor que a alternativa de não se vacinar.

O resultado é que: nas populações onde uma proporção suficientemente ampla das crianças não é imunizada, todos têm um risco maior de pegar a doença – os não protegidos, mas também aqueles que são vacinados, afirmou Edwards ao Guardian.

“Você está colocando outras crianças em risco quando decide não imunizar as suas,” acrescentou.

Veja o gráfico que mostra a contaminação em escala aqui.

São 10 comunidades hipotéticas com taxas de vacinação diferentes. Elas mostram como são importantes as altas taxas de vacinação para proteger todos contra o sarampo.

Se você fizer a simulação várias vezes, apenas os grupos com altas taxas de vacinação são consistentemente protegidos de se infeccionar com sarampo nas suas comunidades.

Para que a simulação funcione bem, fizemos algumas hipóteses cruciais. Com certeza, as populações do mundo real não agiriam tão habilmente.  Primeiro, todos os pontos – ou pessoas – são os mesmos, de idades similares. Vamos dizer que são crianças em idade escolar. Nos nossos exemplos, não são bebês ou pessoas idosas não imunes, mas existem algumas crianças que não podem ser vacinadas por motivos médicos.

As amostras de crianças acima estão intimamente relacionadas e são combinadas aleatoriamente – como aconteceriam se estivessem brincando em um pátio, por exemplo. Fundamentalmente, cada uma tem chance igual de entrar em contato com alguém de fora do grupo que está infectada por sarampo – os pontos vermelhos que aparecem. Cada grupo tem cinco chances de entrar em contato com um estranho infectado, mas depois que a primeira infecção acontece, é isso que acontece: O vôlei da Infecção – esses pontos vermelhos voadores – movem-se para o próximo grupo.

Devido ao sarampo ser extremamente contagioso, se um “ponto-criança” traz a doença para seu grupo, todos aquelas que não são imunes – as suscetíveis – terão 90% de chance de serem infectadas. Entre aquelas vacinadas, há 1% de chance de falha da vacina. Isso quer dizer que estamos presumindo que todos que são vacinados estão totalmente imunizados com ambas as doses da vacina SRC. Uma única dose levaria a mais falhas da vacina (cerca de 5% contra 1%), e é por isso que uma segunda dose da vacina tem sido recomendada nos EUA desde 1989.

Para fazer uma conexão com o mundo real, pegamos algumas das nossas taxas de vacinação dos dados obtidos dos condados dos EUA. Certamente, os condados têm muito mais pessoas que os nossos 100 círculos. Procuramos as taxas de vacinação dos anos mais recentes disponíveis nos estados que publicam dados de vacinação e de exceções. Muitos estados permitem “entradas condicionais” para crianças em idade escolar não imunizadas, o que significa que essas crianças não são vacinadas na chegada, mas espera-se que venham a cumprir as normas. Classificamos essas crianças como não vacinadas.

 

Fonte: The Guardian